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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

E a educação?

Como alguns sabem sou professor de História da rede particular e pública de São Paulo-SP. Venho por meio deste texto explicar um pouco da crise que afeta a minha classe no Brasil. Já há algum tempo roda pela internet uma charge em que mostra a situação do profissional da educação em 1969 e 2009, mostrando a diferença de postura na relação entre pais-professores-alunos/filhos.
Ela nada mais demonstra os efeitos da horizontalização das relações familiares. Antigamente nas relações verticais pais-filhos, agora se tornaram horizontais em algumas famílias onde filhos opinam e mandam tanto quanto os próprios pais na rotina do lar, isso trouxe benefícios em alguns casos como maior aproximação entre pais e filhos, mas também alguns malefícios como criando verdadeiros monstrinhos que não possuem limites, já que não há a força vertical em seu lar para impor. Mas a crise na educação vai muito além do que está explicito na charge. Além da desvalorização externa a classe profissional, também há uma desvalorização dentro da própria classe. Com os profissionais quem eu lido nas escolas e amigos, quase todos estão ou desmotivados ou não vêem perspectivas maiores na profissão. Muito dessa desmotivação vem do modo como os alunos encaram o ensino fundamental e médio. Apesar dos novos paradigmas da educação incentivar o professor a conhecer o contexto do qual o aluno está inserido, do uso das novas tecnologias e linguagens, vai haver um momento que as relações entre professor e aluno em sala de aula vão ter que ser verticalizadas, pois o professor, teoricamente, é formado e detentor do conhecimento, em algum momento seu diploma deverá prevalecer sobre o conhecimento do aluno. Entretanto a resistência dos alunos a essa verticalização é tão grande que impede o desenvolvimento do ensino e o profissional se vê de mãos atadas por essa resistência e amordaçado por uma legislação educacional que muitas vezes o impede e paralisado pelo sistema que o oprime. Junto com a desmoralização da escola, algo que escrevi em post anteriores, também veio a desmoralização do profissional, que passa a ser nada mais, ou nada menos, para alguns alunos aquela pessoa que apenas passa a nota e pronto. Deixou de ser o formador do cidadão crítico o educador social. Qual professor da rede particular nunca ouviu: “Ah deixa professor, vou fazer qualquer faculdade ai, tá barato mesmo”, “Ah professor, ppp – papai pagou, passou”, entre outras frases. Além dos alunos, há os pais que horizontalizaram as relações familiares e não conseguem impor limites a seus filhos e como muitos estudaram em uma escola retrógrada que oprimia os alunos em um regime rígido e militarizado, transferiram para a escola e ao professor a tarefa de educar seus rebentos, mas mal sabem que ao se horizontalizarem-se, horizontalizaram os professores também e reproduzo em alto e bom tom uma frase dita por uma supervisora em uma reunião de HTPC (Horário de Trabalho Pedagógico Comum) Escola não é família, é sociedade. A função da escola e do professor não é dar a educação moral e ética a crianças, mas sim prepará-la para viver em sociedade. Essa degradação chegou a tal ponto que semana passada em uma outra reunião de HTPC chegamos a seguinte conclusão infeliz: “Está faltando professores na Rede Estadual Paulista de Ensino”. Perdi as contas de quantas e quantas vezes que eu, professor efetivo de História, ministrei aulas de matemática no colégio onde leciono por falta de professores que assumam a carga horária e de professores eventuais. Mas em palestras ministradas no Rio de Janeiro e Goiás notei que a situação é a mesma enfrentada em São Paulo: profissionais desmotivados e desvalorizados por uma série de circunstâncias. Nesse ano contabilizei a baixa de três conhecidos que em menos de três anos lecionando largaram a docência, sendo que um dos casos foi diagnosticado depressão por não suportar o ambiente em sala de aula. Na comercialização das relações familiares e pessoais e da educação resultou na desvalorização externa do profissional da educação. E como não há nenhuma perspectiva de mudança, a desvalorização também passou a ser interna. Ou a sociedade muda e passa a lutar por uma educação melhor e maior valorização do profissional, luta e valorização que começa em casa, demonstrando a seus filhos, ou nos próximos 10 anos a qualidade da educação no Brasil vai degringolar.

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