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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Liberdade?

Agora em Dezembro farão 42 anos da instituição do AI5 – Ato Institucional nº 5 (1968-1978). Em resumo esse Ato Infame acabava com todas as liberdades individuais e centralizava mais o poder dos militares em suas mãos, chamado golpe dentro do golpe.
Passados os anos, em 1985 temos a redemocratização, em 1988 a Assembléia Constituinte liderada por Ulisses Guimarães que foi uma resposta clara ao regime ditatorial anterior, a constituição mais democrática, baseada nos valores universais do direito do homem e do cidadão da Revolução Francesa, dos direitos humanos da ONU em 1948, a primeira ceder direito a votos a indígenas (considerados incapazes até então pelo governo) e a analfabetos, um exemplo mundial.
Nasci (1986) e cresci no clima da redemocratização. O Governo FHC (1995-2002) foi uma resposta a ditadura com a adoção de práticas neoliberais de privatizações, o menor controle do Estado. Lembro que o maior júbilo da eleição de 2002 não foi apenas a vitória de Lula, mas a garantia do Estado democrático, pois pela primeira havia troca de poderes de partidos diferentes no Brasil sem tensões políticas.
Mas esse último semestre de 2010, em minhas aulas e o que aconteceu na sociedade maior me fez perceber que a memória da ditadura e do cerceamento da liberdade foram esquecidas, a nova geração e sociedade (13-17 anos) perderam a noção do valor da liberdade de expressão.
Exemplos? Vários
O caso dos meninos da agressão da Paulista. Esse fato lamentável apenas aconteceu porque esses meninos não dão valor a liberdade de expressão, foram acostumados a um padrão e nele acreditam piamente e aquilo que é diferente não tem valor para eles. Não dão valor a pluralidade social! E o pior pessoas, eles são a expressão da classe média paulistana que abomina o que é diferente e não abre espaço a pluralidade, ou vai me dizer que a pluralidade se manifesta nas ruas dos Jardins e Higienópolis?
Eleições 2010. Qual foi o tema principal¿ A questão do aborto, mas a questão de debate não foi sobre política pública de saúde, mas se o aborto é correto ou não! Ora pois! Onde está o direito a liberdade¿ A mulher não é dona de seu corpo e tem o direito de fazer o que quiser? Independente de questão religiosa, CONCORDAR com o direito ao aborto não quer dizer que você é a FAVOR do aborto, e sim do direito a liberdade individual.
Ação da Vila Cruzeiro e Morro do Alemão. Não que eu seja contra a ação dos militares, creio que foi a única opção plausível pela herança de anos e anos de incapacidade política dos governadores fluminenses. Mas o que me espanta é o elogio da sociedade a militarização, como se a força militar fosse o remédio de todos os males,NÃO! O Estado necessita se fazer presente não apenas pela militarização, mas também de projetos sociais e educacionais, o que não se tem falado até agora. No ritmo das UPP’s até 2014 o Rio de Janeiro vai virar uma cidade militarizada, será que esquecemos de como é viver em uma sociedade militar?
Isso tudo pessoas, nada mais é do que o reflexo de uma sociedade que esqueceu o seu passado recente. Nem mesmo a eleição de uma presidente que lutou contra a ditadura foi capaz de reviver isso na memória coletiva da nossa sociedade. Cujo maior “mérito” é ser continuidade do governo anterior e não sua luta pela contra o regime de exceção. Isso se reflete em sala de aula, pelo menos comigo que dou aula para alunos, em sua maioria, classe média. Quando ensino ditadura militar e guerrilhas urbanas e rural canso de ouvir: deveriam ter matado a Dilma, torturado mais e por ai vai. Como disse o profeta: “Deus, os perdoe, eles não sabem o que fazem”, melhor o que dizem. São pessoas que não nasceram no clima de redemocratização, na tensão da volta do regime militar, pior que isso! Nasceram e continuaram sem memória histórica e consciência política. Termino com Bertold Brecht (1898-1956)

O ANALFABETO POLÍTICO.

O pior analfabeto
é o analfabeto político.
Ele não ouve,
não fala,
nem participa
dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão,
do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato
e do remédio
dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e estufa o peito
dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil
que da sua ignorância política
nasce a prostituta,
o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos
que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio
dos exploradores do povo




Perdoar? Quem sabe, mas esquecer: JAMAIS!

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